O passatempo favorito, da maioria, dos portugueses, desde há séculos, é dizer mal uns dos outros. É barato, gratuito, garante bons empregos e oferece interessantes horas de entretenimento. Hoje em dia, criticar ou dizer mal de alguém, dá dinheiro, principalmente a quem consegue transformar a maledicência em livros ou em programas de televisão.
Trata-se, portanto, de uma atividade cheia de mais-valias: não tem custos e pode ter um sem-número de hipóteses de lucro. Quem diz mal, descarrega a sua carga emotiva e violência que carrega consigo. Desabafa e...sente-se melhor! Uma coisa é certa: as pessoas, hoje em dia, não toleram nada! Um pequeno erro numa escrita, numa crónica, numa página dum livro, são o suficiente para condenarem o texto ou centenas de páginas de uma obra, sem terem o cuidado de as ter lido. Condena-se, radicalmente, a obra que deu muito trabalho, por uma página infeliz, uma frase sem gramática que escapou, uma data errada ou por uma simples palavra mal traduzida. O crítico implacável, nada mais vê, de nada mais quer saber, não se importando que o resto possa ser bom, ou tenha alguma utilidade, e que o erro ou o engano, seja um acidente a lamentar ou a notar, não devendo sequer diminuir o valor do trabalho no seu conjunto. Apenas vê o equívoco, o engano e por ele se digladia, se revolta, sobre o valor da obra e do autor. Haverá alguém, que já não tenha cometido um ou mais erros num texto, carta, ou crónica? E não lhe aconteceu já, ao reler um artigo, notar que deixara por lá, umas palavras menos próprias, menos indicadas, pouco dignas, o que muito o arreliou, não só por culpa do seu sistema nervoso, ou pelo descuido imperdoável, como por não ter, na ocasião, encontrado um amigo para lhe dar ocasião de corrigir ou aconselhá-lo?
Não me excluo desta singular maneira de ser português. Não julgo, portanto, os outros, como se eu próprio estivesse acima do julgamento. Eu, pecador me confesso! Mas, era bom que todos nos habituássemos a ser mais generosos para os simples erros ou lapsos alheios e olhássemos para a obra, apreciando-a no seu conjunto, avaliando a sua utilidade e, guardássemos os rigores para o que nós próprios fazemos!
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